terça-feira, 10 de novembro de 2009

Crise na Ciência da Computação II

Eis uma entrevista que fiz com o professor Fábio Kon da USP e diretor do Centro de Competência em Software Livre (CCSL). A entrevista foi produzida para o trabalho de Oficina de Jornalismo II. Espero que gostem.

Ciência da Computação em Crise no Brasil

A criação da Semana Nacional da Educação em Ciência da Computação pelo Congresso dos Estados Unidos da América, no último dia 20 de outubro, desperta nos pesquisadores e docentes brasileiros a necessidade de avaliar os motivos da crise na Ciência da Computação no Brasil e pensar formas de amenizá-la. O professor Fábio Kon, livre docente da USP e diretor do Centro de Competência em Software Livre (CCSL) diz que as presenças de especialistas nas escolas do ensino médio e novas políticas públicas podem reverter essa tendência. Veja a entrevista concedida.

(André Leon Gradvohl) Recentemente, o Congresso dos Estados Unidos da América aprovaram uma resolução que determina a semana do dia 7 de dezembro como a Semana Nacional da Educação em Ciência da Computação. O que o sr. acha dessa medida?

(Fábio Kon) Tanto nos Estados Unidos quanto no Brasil a procura por cursos de Ciência da Computação e outras áreas relacionadas ao desenvolvimento de software tem caído bastante. Essa resolução do congresso americano demonstra que há uma grande preocupação por parte daquele país em relação a esse problema. A resolução afirma que a educação em Ciência da Computação promove a inovação e o crescimento econômico. Infelizmente, no Brasil, os congressistas provavelmente nem sabem o que é Ciência da Computação e nunca ouviram falar do assunto.

(ALG) Em sua opinião, por que existe pouca procura por cursos de computação no Brasil? Há algo que possa reverter essa situação?

(FK) Isso é um grande mistério. Eu imagino que seja porque antigamente a computação era considerada algo futurista e hoje não mais. O maior problema é que os jovens não sabem direito o que é um curso de Ciência da Computação. Muitos vestibulandos acham que é um curso para aprender a mexer no Windows melhor. Outros vestibulandos não entendem direito a diferença entre os vários cursos de Computação e acabam optando de forma errada.

Boa parte dos cursinhos orienta os alunos de forma errada também. Já ouvi falar uma vez que um cursinho de São Paulo orientava da seguinte forma: "se quiser fazer teoria, vá fazer Ciência da Computação, se quiser prática, vá fazer Engenharia da Computação"; isso está completamente errado.

Para reverter essa situação, a comunidade brasileira de computação, talvez através da [Sociedade Brasileira de Computação] SBC, deveria iniciar um movimento coordenado de promoção da área e de disseminação de informações sobre a área.

(ALG) Em sua opinião, que tipo de ações são necessárias para que os brasileiros percebam que a Computação é um motor de inovação também no Brasil?

(FK) É preciso uma maior presença de especialistas da área em escolas do ensino médio e cursinhos para esclarecer os jovens sobre as profissões relacionadas à computação. É preciso também uma articulação em níveis superiores do governo para que haja políticas públicas neste sentido.

(ALG) Qual o papel do software livre/aberto para a Ciência da Computação no Brasil?

(FK) O Software Livre permite que o conhecimento esteja disponível a toda a sociedade e que seja colaborativamente desenvolvido em benefício de toda a sociedade. Para o Brasil, ele representa a diferença entre determos o conhecimento sobre as ferramentas de uso diário que movimentam a sociedade da informação ou usarmos caixas-pretas que não sabemos o que têm dentro.

Para a economia brasileira, o software livre apresenta um potencial enorme para a criação de uma indústria nacional de serviços de TI. Infelizmente, esse potencial ainda é pouco explorado.

(ALG) O sr. é o coordenador do Centro de Competência em Software Livre (CCSL). Quais são os principais projetos em andamento e quais os resultados mais significativos do CCSL?

(FK) O CCSL do IME-USP foi fundado em janeiro de 2009, então estamos ainda engatinhando. Mas já temos mais de 12 projetos de desenvolvimento de software livre caminhando muito bem, quase sempre desenvolvidos por nossos alunos. Temos também várias pesquisas de iniciação científica, mestrado, doutorado e até pós-doutorado relacionadas ao software livre. Além disso, outras áreas de pesquisa de nosso departamento também disseminam conhecimento em suas respectivas áreas através de software livre. Finalmente, temos tido minicursos e palestras interessantíssimas de especialistas nacionais e internacionais da área. Boa parte desse material está disponível em nosso portal em http://ccsl.ime.usp.br