quarta-feira, 27 de maio de 2009

Onde melhor publicar: revistas científicas, conferências ou livros?

Uma das discussões que retornam com frequência entre os cientistas da computação é onde publicar, ou melhor, em que meio a publicação pode ter maior impacto. Diferente das Ciências Hard Core ou do "núcleo duro" (particularmente não gosto muito dessa tradução), e. g. Física, Química e Biologia, onde a publicação em periódicos científicos é mais valorizada, na Ciência da Computação esse nem sempre é o melhor caminho.

Periódicos ou Conferências?
Em um artigo intitulado "Research evaluation for computer science" publicado em abril deste ano (2009) na ACM Communications e já citado em um post anterior, os autores defendem que por ser uma área de conhecimento que combina Ciência e Engenharia, a avaliação de pesquisas em Ciência da Computação não pode usar a mesma metodologia que se adota nas ciências do Hard Core.

Além disso, uma parte importante da Ciência da Computação produz artefatos (entenda-se sistemas e software). Na maioria das vezes, esses artefatos têm impacto maior do que uma publicação em um periódico. Afinal, o software chega mais rápido à comunidade do que o artigo em um periódico, cujo tramite do envio até a publicação por vezes é bastante demorado.

Exemplo prático? Que tal o algoritmo Page Rank que o Google usa para determinar a popularidade de uma página na WWW baseado na quantidade de links para aquela página (Sergey Brin and Lawrence Page: The anatomy of a large-scale hypertextual Web search engine, in Computer Networks and ISDN Systems, 33: 107-17, 1998). O impacto que o algoritmo em si teve na sociedade certamente é muito maior do que o impacto do artigo.

Também no editorial da ACM Communicatios de Maio de 2009, o editor Moshe Y. Vardi argumenta que a comunidade de cientistas da Computação talvez seja a única que prefere a publicação em conferências do que em qualquer outro meio (periódicos ou livros). Ainda segundo Vardi, essa preferência foi legitimada pelo artigo "Evaluating Computer Scientists and Engineers for Promotion and Tenure" publicada pela "Computing Research Association".

O critério Qualis-CC
A discussão ocorre inclusive no âmbito brasileiro. Na lista de discussão da Sociedade Brasileira de Computação (SBC-L), em maio deste ano principalmente, muito se discutiu sobre o critério de indexação que a CAPES está utilizando, o chamado Qualis-CC.

Em resumo, nem todos os pesquisadores estão de acordo com os critérios adotados pela CAPES. O principal argumento é que a área de Ciência da Computação é multidisciplinar por natureza e, por isso, nem sempre uma publicação que não é muito citada por outras publicações deve ser avaliada como de baixo impacto. Na área de Ciência da Computação, por vezes algumas publicações geram produtos que não são descritos em periódicos científicos, mas têm grande relevância na sociedade.

E os Livros?
Ainda na área de Computação, os livros têm um papel importante. Além de consolidar alguns conhecimentos, há muito mais espaço para explicar e detalhar as ideias. O principal exemplo é a série de livros "The art of computer programming" de Donald E. Knuth, onde os algoritmos mais importantes para qualquer ramo da Ciência da Computação são detalhados.

Por outro lado, nem sempre os livros não passam por um comitê de especialistas de peso como pretensamente passam os artigos para as conferências ou periódicos científicos. Claro que existem editoras mais conceituadas que tem essa preocupação, mas sabe-se que não são a maioria.

Portanto...
É evidente que não existe demérito algum em publicar em periódicos, conferências ou livros. O importante é produzir conhecimento e ter uma maneira justa de avaliar o impacto dessa produção.

A grande questão é como medir o impacto dessas diferentes formas de divulgação do conhecimento. São meios e características diferentes, por isso é praticamente impossível ter uma única metodologia para todos. No entanto, não se pode desprezar nenhum deles.

sexta-feira, 15 de maio de 2009

Será o começo do fim do Google?


Este blog agora abre espaço para discutir um pouco de Tecnologia. Bom a pergunta no título pode parecer uma previsão que nunca vai se concretizar. Mas alguns acontecimentos nos últimos dias (14 de maio e 7 de maio) parece indicar que existe uma chance de que o começo do fim do Google está iniciando. Vamos ver os fatos.

Como se sabe, desde que foi fundado em 1996 - naquela época já consumindo muita largura de banda - o Google vem crescendo e recentemente, nos últimos cinco anos, tem adquirido vários outros serviços na rede. Entre eles estão o próprio buscador Google, o serviço de e-mail GMail, YouTube, Orkut, Mapas, Google Earth, GoogleDocs e até mesmo o servidor que suporta este blog. Com tantos serviços assim, imaginem a quantidade de pessoas e equipamentos mobilizados para prestar esses serviços.

A empresa Google.
Bom, o Google é uma empresa de capital aberto e, portanto, não basta prestar serviços. É importante prestar serviços de qualidade e que façam com que seus consumidores não pensem em outras alternativas quando precisam de algo na internet. Vale lembrar que o Google não é uma empresa "comunitária" e que presta serviços de graça. É uma empresa de Propaganda cujo principal serviço é divulgação direcionada para perfis específicos de usuários. Qualquer profissional de Marketing sabe que quando se tem um alvo específico, fica muito mais fácil tornar a divulgação eficiente.

Quer um exemplo? Está vendo esses links no começo da página, à direita? Note que todos eles são vinculados de alguma forma à Computação. A razão disso é que, como o Blog tem esse assunto como principal, o Google supõe que todos os interessados que lêem este post também estão interessados em produtos ligados à Computação. Por isso tantas propagandas sobre isso.

Experimente buscar algo no serviço de buscas. Verá que ao lado, na seção "links patrocinados" aparecerão vários produtos relacionados. E isso funciona para todos os serviços que o Google presta.

O conceito de Escalabilidade
Mas voltemos ao assunto principal do post. Por que pode ser o começo do fim do Google? A razão para essa especulação é um conceito chamado escalabilidade. Em redes de computadores ou sistemas distribuídos, escalabilidade é um conceito essencial. Basicamente, um sistema é escalável se, ao crescer em número de equipamentos (processadores, número de conexões, capacidade de armazenamento em disco), a sua capacidade computacional cresce proporcionalmente. Alguns sistemas têm um limite para escalabilidade.

Vejamos uma metáfora que explica bem o conceito. Imagine que você é um gerente em um restaurante com 3 garçons e você precisa gerenciá-los para atender os pedidos da sua clientela. Você quer aumentar a clientela, portanto o ideal é contratar mais garçons. A princípio o restaurante consegue atender mais clientes, mas a sua capacidade de gerenciamento fica mais difícil. Uma hora vai acontecer que haverão muitos clientes, mas você não pode aumentar o número de garçons porque você não consegue gerenciá-los. Alguns clientes ficarão insatisfeitos com o serviço e migrarão para a concorrência.

No caso descrito, o Google é o gerente, os garçons são os vários computadores (servidores) do Google e os clientes somos todos nós que utilizam o serviços. Para aqueles que querem uma visão mais técnica de como funciona o sistema de buscas no Google, acesse este endereço: http://www.google.com/corporate/tech.html

Começo do fim?
Enfim, se por um lado há uma capacidade computacional limitada - mesmo para uma empresa de capital aberto como o Google -, por outro há cada vez mais pessoas conectadas a mais tempo na rede. Ao não terem suas expectativas atendidas por um prestador de serviço, é natural que as pessoas busquem serviços alternativos. Isso causa um desinteresse dos investidores na empresa que diminuem seus investimentos. Com menos capital para investir, não se pode crescer, gerando mais descontentamento e entrando em uma espiral negativa.

É claro que estou especulando, mas muitas empresas de Internet terminaram assim. Lembra do Alta Vista, Netscape, Mosaic? Por que não o Google? Será que é o começo do fim?